A arena fechada da Sapucaí, no Rio de Janeiro, comporta vários elementos contraditórios com o popular. Festa ‘fechada’ e ao mesmo tempo ‘transmitida para o mundo’, desfile onde o capital de giro movimenta dezenas de milhões de reais não gerando melhorias significativas e permanentes de promoção humana nas imúmeras comunidades de onde as escolas se originaram e foram fundadas.
O carnaval e o samba carioca (samba choro, samba de gafieira, samba-de-breque, samba de roda, etc.) vão além da sapucaí, mas destaco um ponto de vista devido ao fato ímpar e exclusivo, a característica de vitrine nacional e internacional da sapucaí.
Não entro na questão estética, ou criativa do desfile. Faço referência direta aos sambas enredo das Escolas do grupo principal do Rio de Janeiro. Samba enredo não tem que ser sinônimo de “samba fórmula 1”. A muitos anos (com raras excecões) que os sambas enredo não possuem mais o casamento e harmonia da poesia cantada. Curiosamente também a muitos carnavais muitas baterias das escolas de samba, tocam com o andamento alterado, fazendo uma outra divisão ritmica, não tocam mais samba nos desfiles… tocam marcha. Ávidos pela rapidez e velocidade tem ficado no esquecimento da síncope característica do samba.
Não empregar a síncope se traduz numa contradição com o o discurso do “samba de raiz”. Preservar as características tradicionais do samba significa, necessariamente, valorizar a síncope como uma das principais características musicais definidoras do samba, do “samba no pé”, da boa e alegre “malandragem”, da brincadeira saudável. Simplesmente o ritmo do samba no desfile não permite nem dançar o samba, somente pular e marchar, na pressa de cumprir o tempo determinado e não ultrapassar, sob risco de perda de pontos na contagem geral, etc.
O samba carioca fechado na arena da sapucaí, samba que herdou e transformou o toque dos tambores africanos, está em mutação a muito tempo, não é mais samba, as paradinhas inventadas, apesar de bacanas e interessantes, estão mais como paradinhas de marcha-funk, do que samba. A mistura deveria enriquecer e não fazer perder a identidade musical do ritmo. Alguns podem fazer referência a isso como uma transformação no samba. Tudo bem, porém prefiro a quebrada cadência sincopada, que dava espaço ao tamborim e ao pandeiro.
Enfim, somente um ponto de vista, uma opinião, algumas caraminholas de alguém que cresceu ouvindo música, entre outros… João Nogueira, Paulinho da Viola, Emílio Santiago, Fundo de Quintal, Alcione e cantava na ponta da língua todos os sambas enredo das escolas do grupo principal. Tragam o batuque cadenciado da síncope de volta, chega de correria, não se tornem “Escolas de Marcha”, mas voltem a ser “Escolas de Samba”.
Se achar que vale a pena, deixe um comentário a respeito, ok?!
____________
Sugestão de leitura:
– “Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro, 1917-1933”, de Carlos Sandroni, 2ª ed. Ed. UFRJ, 2008.
O samba carioca fechado na arena da sapucaí, samba que herdou e transformou o toque dos tambores africanos, está em mutação a muito tempo, não é mais samba, as paradinhas inventadas, apesar de bacanas e interessantes, estão mais como paradinhas de marcha-funk, do que samba. A mistura deveria enriquecer e não fazer perder a identidade musical do ritmo. Alguns podem fazer referência a isso como uma transformação no samba. Tudo bem, porém prefiro a quebrada cadência sincopada, que dava espaço ao tamborim e ao pandeiro.
CurtirCurtir